tudo o que der na cabeça, sobre qualquer coisa, a qualquer hora, onde quer que seja.
Pesquisar este blog
terça-feira, 30 de novembro de 2010
O RIO.
(...) Deixando vou as terras
de minha primeira infância.
Deixando para trás
os nomes que vão mudando.
Terras que eu abandono
porque é de rio estar passando.
Vou com passo de rio,
que é de barco navegando.
Deixando para trás
as fazendas que vão ficando.
Vendo-as, enquanto vou,
parece que estão desfilando.
Vou andando lado a lado
de gente que vai retirando;
vou levando comigo
os rios que vou encontrando.
Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.
João Cabral de Melo Neto
de minha primeira infância.
Deixando para trás
os nomes que vão mudando.
Terras que eu abandono
porque é de rio estar passando.
Vou com passo de rio,
que é de barco navegando.
Deixando para trás
as fazendas que vão ficando.
Vendo-as, enquanto vou,
parece que estão desfilando.
Vou andando lado a lado
de gente que vai retirando;
vou levando comigo
os rios que vou encontrando.
Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.
João Cabral de Melo Neto
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
domingo, 28 de novembro de 2010
Quem me dera...
Quem me dera viver a inconsistência de uma fantasia real
na mente idealizada, no corpo materializado, e da alma jamais dissociado.
Quem me dera permitir a mim mesmo, ser.
Não conter, não reprimir, não cercear, não justificar, não dizer não.
A incontinência, a impertinência, a indulgência no lugar da desistência.
Amálgama da vida embuste, na relutância de mudança necessária.
Quem me dera fosse tudo tão simples!
Quem me dera fosse tudo tão simples!
na mente idealizada, no corpo materializado, e da alma jamais dissociado.
Quem me dera permitir a mim mesmo, ser.
Não conter, não reprimir, não cercear, não justificar, não dizer não.
A incontinência, a impertinência, a indulgência no lugar da desistência.
Amálgama da vida embuste, na relutância de mudança necessária.
Quem me dera fosse tudo tão simples!
Quem me dera fosse tudo tão simples!
Legendas...
A Sé Velha, e o mosteiro de Santa Cruz representam o grande pólo propagandeador da imagem Real de Afonso Henriques e Sancho I. Os monges crúzios foram grandes aliados da realeza portuguesa. Houve ainda uma disputa entre o mosteiro e a Sé, indicando a luta entre os interesses portugueses e galegos/leoneses/castelaneses.
sábado, 27 de novembro de 2010
Amor polenta, o delicioso bolo de varese. Sugestão para aquele café à tardinha durante o final de semana.
O Amor Polenta é um bolo delicioso e delicado, que se prepara com facilidade e rapidez com alguns simples ingredientes. O principal ingrediente deste bolo é a farinha de milho, usado normalmente para preparar a nossa tradicional polenta. O bolo Amor Polenta é um doce típico da tradição culinária Lombarda, especialmente da cidade de Varese, onde ainda é preparado nas confeitarias tradicionais, nos cafés, padarias e delicatessens, e por esta razão Amor Polenta é também chamado ” Varese Dolce”. Vamos aos ingredientes? Para a receita serão necessários: - 100 gr de Manteiga sem sal - 100 gr de Farinha de Milho - 80 gr de Farinha de Trigo - 1 colher de chá de fermento para bolo - 70 gr de castanhas trituradas finamente - 3 colheres de sopa de Rum - 2 ovos - 1 colher de chá de essência de baunilha - 120 gr de açúcar Preparação: Juntar os ovos inteiros, o açúcar e a manteiga e bater ate obter um creme homogêneo, depois acrescentar aos poucos os demais ingredientes e bater por aproximadamente 5 minutos. Untar uma forma, dispor a massa e assar em forno pré aquecido à 180°C por aproximadamente 40 minutos. Desenforme cuidadosamente e se preferir pode-se polvilhar açúcar de confeiteiro. Se preferir também, pode-se substituir o Rum, por qualquer licor de sua escolha. Agora é maos à obra! Como puderam ver, a receita é fàcil e simples de fazer! Buon appetito a todos! |
Adoro isso aqui.
no silêncio da madrugada,
ao som dos carros vagabundos e
dos morcegos que arrodeiam
meu a.p.,
consigo um breve momento
de lucidez,
que me permita dizer:
adoro isso aqui.
o aqui e agora. meu momento.
minhas coisas, enfim,
meu mundo perfeito
ao meu alcance.
Repito: adoro isso aqui!
ah! como a singeleza
do momento, do lugar,
das presenças e das ausências
são importantes.
Sou transportado
por esses elementos mágicos
no tempo e no espaço,
para outros momentos
e pessoas,
que antecedem meus sonhos.
Ah! eu adoro isso aqui!
Adriano Monteiro.
ao som dos carros vagabundos e
dos morcegos que arrodeiam
meu a.p.,
consigo um breve momento
de lucidez,
que me permita dizer:
adoro isso aqui.
o aqui e agora. meu momento.
minhas coisas, enfim,
meu mundo perfeito
ao meu alcance.
Repito: adoro isso aqui!
ah! como a singeleza
do momento, do lugar,
das presenças e das ausências
são importantes.
Sou transportado
por esses elementos mágicos
no tempo e no espaço,
para outros momentos
e pessoas,
que antecedem meus sonhos.
Ah! eu adoro isso aqui!
Adriano Monteiro.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
gotas de sabedoria diária
"De que me adianta temer o que já aconteceu? O tempo do medo já aconteceu, agora, começa o tempo da esperança..."
PAULO FREIRE.
PAULO FREIRE.
Dias de catarse.
Dias difíceis estes!
Violência em profusão,
insegurança de montâo,
depreciação da cidade,
sentimento de impotência,
Vontade de fugir,
raiva desse bando
de desgraçados.
Um misto de vontade de ver
sangue jorrar, e sentimento
de culpa,
se isso de fato acontecer.
Nessas horas,
muita gente bota p´rá fora
aquilo que realmente
sente, e quer.
Aí eu te pergunto:
Vamos ao cinema
assistir qualquer coisa
p´rá esquecer tudo isso?
Adriano Monteiro
Violência em profusão,
insegurança de montâo,
depreciação da cidade,
sentimento de impotência,
Vontade de fugir,
raiva desse bando
de desgraçados.
Um misto de vontade de ver
sangue jorrar, e sentimento
de culpa,
se isso de fato acontecer.
Nessas horas,
muita gente bota p´rá fora
aquilo que realmente
sente, e quer.
Aí eu te pergunto:
Vamos ao cinema
assistir qualquer coisa
p´rá esquecer tudo isso?
Adriano Monteiro
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
gotas de sabedoria diária
"Quando os fatos mais importantes estão acontecendo, nós sequer os reconhecemos ou os percebemos. Nós estamos simplesmente ocupados, vivendo nossas vidas. Só olhando para trás é que sabemos o que foram os grandes momentos de nossas vidas".
FEDERICO FELLINI
FEDERICO FELLINI
DEVANEIOS DA MADRUGADA.
Ainda agora olhei pela janela. Vi chuva.
Que droga, pensei.
Mas que nada, remendei. Amanhã
será um lindo dia!
Lembrei que o guilherme arantes
já havia dito isso numa canção.
Fui procurar a tal música. Ouvi.
Lembrei de um monte de coisas.
Meus sentidos se aguçaram.
Senti fome. Senti sede. Senti
vontade de ir ao banheiro.
Comi. Bebi. Mijei.
Retornei a janela, e vi,
parou de chover.
Eu e o guilherme estávamos certos,
Amanhã será um lindo dia!
Adriano Monteiro
Que droga, pensei.
Mas que nada, remendei. Amanhã
será um lindo dia!
Lembrei que o guilherme arantes
já havia dito isso numa canção.
Fui procurar a tal música. Ouvi.
Lembrei de um monte de coisas.
Meus sentidos se aguçaram.
Senti fome. Senti sede. Senti
vontade de ir ao banheiro.
Comi. Bebi. Mijei.
Retornei a janela, e vi,
parou de chover.
Eu e o guilherme estávamos certos,
Amanhã será um lindo dia!
Adriano Monteiro
terça-feira, 23 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
PESADELO.
A pasmaceira tomou conta de minha vida.
Quando será que as manhãs voltarão a ser estimulantes?
e quando as tardes se revestirão novamente de magia?
quando os fins de semana tornarão a ser dias especiais?
digo a mim mesmo: a hora é agora!
entretanto, nada mudará mesmo. Por que?
Porque há uma força interior, que consome
a esperança da vida, da beleza. Consome a esperança nos caminhos
desconhecidos que precisam ser desbravados,
e os arroubos sanguínios de outrora. Essa força
me mostra uma face do medo ante a vida que é
simplesmente inexplicável!
Sinto uma sensação de estar sendo sufocado!!
Ao acordar, sinto um alívio.
A vida é linda, e os dias merecem ser descobertos
minuto a minuto. Agradeço por estar vivo.
Fico feliz por estar livre desse pesadelo.
Os dias voltaram a ser estimulantes!
As tardes novamente são pura magia,
e mal me contenho em pensar que logo ali a frente
já vem o fim de semana!
Adriano Monteiro.
Quando será que as manhãs voltarão a ser estimulantes?
e quando as tardes se revestirão novamente de magia?
quando os fins de semana tornarão a ser dias especiais?
digo a mim mesmo: a hora é agora!
entretanto, nada mudará mesmo. Por que?
Porque há uma força interior, que consome
a esperança da vida, da beleza. Consome a esperança nos caminhos
desconhecidos que precisam ser desbravados,
e os arroubos sanguínios de outrora. Essa força
me mostra uma face do medo ante a vida que é
simplesmente inexplicável!
Sinto uma sensação de estar sendo sufocado!!
Ao acordar, sinto um alívio.
A vida é linda, e os dias merecem ser descobertos
minuto a minuto. Agradeço por estar vivo.
Fico feliz por estar livre desse pesadelo.
Os dias voltaram a ser estimulantes!
As tardes novamente são pura magia,
e mal me contenho em pensar que logo ali a frente
já vem o fim de semana!
Adriano Monteiro.
sábado, 20 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
SUTILEZAS.
Uma barbaridade bárbaramente perpetrada. Uma violência violentamente sacramentada. Uma percepção mal percebida. Uma alegria alegremente vivida. Uma experiência bem experimentada. Que diferença afinal não foi diferenciada?
Adriano Monteiro.
LINDA DECLARAÇÃO DE AMOR EM PLENO SÉC. XII.
Fujo para longe de ti,
evitando-te como a um inimigo,
mas incessantemente
te procuro em meu pensamento.
Trago tua imagem em minha memória
e assim me traio e contradigo,
eu te odeio, eu te amo."
"É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo."
Carta de Heloísa a Abelardo
evitando-te como a um inimigo,
mas incessantemente
te procuro em meu pensamento.
Trago tua imagem em minha memória
e assim me traio e contradigo,
eu te odeio, eu te amo."
"É certo que quanto maior é a
causa da dor, maior se faz
a necessidade de para ela
encontrar consolo, e este
ninguém pode me dar, além de ti.
Tu és a causa de minha pena,
e só tu podes me proporcionar conforto.
Só tu tens o poder de me entristecer,
de me fazer feliz ou trazer consolo."
Carta de Heloísa a Abelardo
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
gotas de sabedoria diária
"A gente encontra o próprio estilo quando não consegue fazer as coisas de outra maneira."
PAUL KLEE.
PAUL KLEE.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
dose diária de sabedoria...
"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos. Nem todas as mentiras podem ser suportadas".
Umberto Eco.
Umberto Eco.
ANGUSTIANTE...
"Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios.
(...) Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos, que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de velho, fracas e inúteis.
(...) Afinal tudo desaparece. E, inteiramente vazio, fico tempo sem fim ocupado em riscar as palavras e os desenhos. Engrosso as linhas, suprimo as curvas, até que deixo no papel alguns borrões compridos, umas tarjas muito pretas.
Se pudesse, abandonaria tudo e recomeçaria as minhas viagens. Esta vida monótona, agarrada à banca das nove horas ao meio-dia e das duas às cinco, é estúpida. Vida de sururu. Estúpida."
ANGÚSTIA
GRACILIANO RAMOS
(...) Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos, que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de velho, fracas e inúteis.
(...) Afinal tudo desaparece. E, inteiramente vazio, fico tempo sem fim ocupado em riscar as palavras e os desenhos. Engrosso as linhas, suprimo as curvas, até que deixo no papel alguns borrões compridos, umas tarjas muito pretas.
Se pudesse, abandonaria tudo e recomeçaria as minhas viagens. Esta vida monótona, agarrada à banca das nove horas ao meio-dia e das duas às cinco, é estúpida. Vida de sururu. Estúpida."
ANGÚSTIA
GRACILIANO RAMOS
terça-feira, 16 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Já na literatura nem tudo mudou... Ainda bem!!
Livros Rio, 20 de novembro de 1889
Após quatro meses de silêncio, Machado de Assis volta a publicar os folhetins de Quincas Borba
Biblioteca Nacional
O escritor: galhofa e melancolia
Festejai, republicanos de todo o país – vá lá, monarquistas também. No final deste mês, o suplemento literário da revista feminina A Estação traz de volta os folhetins de Quincas Borba, de Joaquim Maria Machado de Assis. Já não era sem tempo. Iniciado em junho de 1886, Quincas Borba desapareceu subitamente das páginas de A Estação há quatro meses, nas quais muitas vezes era publicado ao lado de anúncios de moda. Os leitores decerto estarão curiosos por saber o destino que a pena ora galhofeira, ora melancólica de Machado reservou àquelas personagens que circulam pela Corte carioca de trinta anos atrás, quando se passa a história. O Brasil então travava uma guerra com o Paraguai do marechal Solano López. O imperador Pedro II impunha o veterano conservador Visconde de Itaboraí como presidente do Conselho a uma Câmara de Deputados dominada pelos liberais, episódio do qual surgiria o Partido Republicano. E a escravidão ingressava em seus capítulos derradeiros com a assinatura da Lei do Ventre Livre.
Tudo isso se sabe. O que se desconhece é o que virá em Quincas Borba, vencida a crise de inspiração que se abateu sobre seu autor. Terá sucesso Rubião, o mineiro pé–de–chinelo que subitamente se converteu em capitalista graças à herança de um amigo lunático, em sua corte adúltera à bela Sofia? Guasca perturbadora, Sofia é capaz de enlouquecer o mais são dos homens. "Era daquela casta de mulheres que o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias", escreveu Machado. Sofia, na parte publicada do romance, está casada com Cristiano Palha, um tipo extraordinariamente ambicioso que conheceu Rubião quando este viajava num trem de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, já montado numa fortuna de muitos e muitos contos. Palha insinuou–se na amizade de Rubião e acabou por tomar–se seu sócio numa dessas casas de importação que proliferam no Rio nesta segunda metade de século XIX.
Em 1883, ao comentar o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, um marco na obra de Machado de Assis, o crítico Araripe Júnior, primo de José de Alencar, estampou sua perplexidade. "É o livro mais esquisito que se tem publicado em língua portuguesa", afirmou Araripe. Outro famoso literato, Capistrano de Abreu, perguntou se era um romance. Eram compreensíveis estas considerações. Ou alguém já vira antes um defunto autor, ou autor defunto, ele mesmo, Brás Cubas? Mesmo um capítulo sem uma única palavra aparecia no Memórias Póstumas. Até a interrupção de julho passado, já haviam sido escritos 105 capítulos de Quincas Borba, páginas suficientes para perceber que, em questão de esquisitices, ambos os romances se equivalem.
Primeiro que tudo, quem é mesmo o Quincas Borba que dá nome à história? Bem, talvez fosse melhor perguntar quais são, uma vez que não se trata de um, mas de dois Quincas Borba. O primeiro é um filósofo maluco, o amigo que legou a fortuna a Rubião, autor de uma teoria intitulada "Humanitas", segundo a qual a guerra constrói e a paz destrói.Tentemos desvendá–Ia. Suponhamos duas tribos em um campo de batatas. As batatas são bastantes para saciar a fome de apenas uma das tribos. Se houver paz, ambas perecerão de inanição. Na guerra, uma sobreviverá. O filósofo não era exatamente conciso. Se o fosse, poderia resumir "Humanitas" numa frase: ao vencedor, as batatas. Quincas Borba já aparecera antes no Memórias Póstumas, filosofando extravagâncias e batendo a carteira de Brás Cubas.
Existe, assim, um elo evidente entre os dois romances. Mas se o primeiro Quincas Borba surge agora apenas para morrer e enriquecer Rubião, o segundo vem acompanhando–o todos os dias. Não fala, gane. É o cachorro do filósofo, "algo peludo e cor de café", a quem o dono deu seu nome. "Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome de meu bom cachorro", justificou Quincas Borba a Rubião. Entre Rubião e o legado do criador de "Humanitas", erguia–se apenas uma condição: que cuidasse do cão com o mesmo carinho que dedicaria ao amigo que morrera. Tudo muito esquisito.
No capítulo trinta de Quincas Borba, Machado de Assis coloca–se na pele do leitor e faz um comentário revelador. "Arrenego de um autor que me diz tudo, que me não deixa colaborar no livro, com a minha própria imaginação", afirma. "A melhor página não é só a que se relê, é também a que a gente completa de si para si. "Não, ele não poderia perder uma oportunidade de dar mais um piparote nos devotos da escola realista, que têm no francês Emile ZoIa seu nome mais vistoso. A Machado repugna essa escola, com sua obsessão por mostrar a realidade tal como é, em seus menores detalhes, "com exação de inventário". Ele assestara já uma memorável pancada nos realistas ao fazer a crítica de O Primo Basílio, do português Eça de Queiroz, seguidor de Zola. "A nova poética só chegará à perfeição no dia em que nos disser o número exato de fios de que compõe um lenço de cambraia ou um esfregão da cozinha", esporeava então, Machado. Em que escola enquadrá–Io? Difícil. Aos derramamentos verbais dos românticos e à submissão dos parnasianos à forma, ele opõe a simplicidade. Talvez daqui a mais de um século os literatos ainda discutam a que escola pertence Machado de Assis.
Aos 50 anos de idade, o escritor desfruta sólida reputação. Desde 1883, uma biblioteca pública em ltajubá leva seu nome. "Chefe consagrado dos nossos literatos", "o primeiro de todos", "o único", reverenciam–no escritores como Raul Pompéia, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Se fosse criada no Brasil uma academia de letras nos moldes da francesa, seria um poderoso candidato à presidência. Machado de Assis dificilmente terá sido o brasileiro mais feliz com o advento da República, assim como não compartilhara o entusiasmo dos abolicionistas em 13 de maio do ano passado. Não que seja um monarquista fanático, longe disso. É que, como escreveu numa crônica recente, desconfia que, atrás dos arroubos dos progressistas, escondem–se aproveitadores interessados em transformar a República recém–nascida numa "anarquia social, mental, moral, não sei mais qual".
Que não tem os políticos em alta conta é notório. Os políticos em suas obras são nulidades pomposas. Uma dessas nulidades aparece justamente em Quincas Borba. Chama–se Camacho e faz, a certa altura, um desabafo lapidar. "Isso de política é como a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo", lamenta–se Camacho. "Não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende." De mais a mais, é inegável que o Segundo Reinado foi benfazejo a Machado de Assis, que vem de uma família humilde. Propiciou–lhe uma excelente carreira como funcionário público. Faz poucos meses, foi nomeado diretor do Ministério da Agricultura, com um salário de 8 contos anuais. Parece que pensava em comprar finalmente uma casa. Aquela em que ele e a mulher, Carolina, moram, no número 18 da Rua Cosme Velho, é alugada à condessa de São Mamede. Mas, provavelmente, agora se pergunta o que a República reservará para um alto funcionário da Monarquia como ele.
Seus cabelos estão embranquecendo, e ele passou a usá–los curtos, com uma barba que se prolonga em suíças até as orelhas. Gosta de jogar xadrez, voltarete e gamão. Levanta–se cedo e vai ao jardim ver as rosas, as murtas e as borboletas. "Tenho particular amor às borboletas", afirma. Depois, escreve. Trabalha no ministério após o almoço. Tem sempre, nos passeios pelo jardim, a companhia de Carolina. Conheceu–a no começo de 1867, irmã do poeta satírico português Faustino Xavier de Novais, que se fixara anos antes no Rio e fizera amizade com Machado de Assis. Morta a mãe, Novais mandara buscar Carolina em Portugal. Ao desembarcar no Brasil, Carolina andava pelos 32 anos e, se não era a mais formosa das lusitanas, tinha outras virtudes que capturaram a atenção do escritor. Em Portugal, polira–se na juventude na presença de intelectuais como Camilo Castelo Branco, que freqüentavam a casa de seus pais. "Talvez um anjo emudece quando ela fala", celebrou seu enamorado brasileiro numa poesia.
Os dois tiveram que superar resistências na família da noiva para casar, em 12 de novembro de 1869. O currículo extralivro do noivo não impressionou os Novais: mulato, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira, gago e epiléptico. Carolina, com seu português castiço, é quem vela pela ortografia sujeita a tropeços do autodidata que tomou por marido. É ela, também, quem mantém à mão, discretamente, a solução La Royenne, o antiepiléptico usado por Machado de Assis. Talvez Carolina o tenha ensinado, de resto, a lidar com gente inoportuna. Numa festa, há pouco tempo, uma senhora trocou meia dúzia de palavras com Machado e comentou: "Tinham me dito que o senhor é gago e vejo que não é tanto". Replicou ele: "Pois tinham–me dito que a senhora era estúpida e vejo também que não é tanto".
Louvem–na ou apedrejem–na, a pena de Machado de Assis é, sem dúvida, versátil. Poesia, romance, conto, crônica, crítica, teatro – a todos os gêneros vem ele dedicando–se. Lá se vão 25 anos desde o lançamento de seu primeiro livro, a coletânea de poemas Crisálidas, de 1864. Vieram depois peças de teatro, volumes de contos, como Histórias da Meia–Noite, e romances, como Ressurreição, Iaiá Garcia e Memórias Póstumas. Memórias Póstumas, aliás, de 1881, é um caso à parte. É diferente de tudo quanto escrevera antes, páginas preenchidas "com a pena da galhofa e a tinta da melancolia". Como pudera um só autor escrever Iaiá Garcia e Memórias Póstumas? "É que eu perdi todas as esperanças nos homens", disse certa vez Machado. Neste momento em que o público está prestes a reencontrar–se com as peripécias de Quincas Borba, talvez valha uma analogia entre criatura e criador. Ou, mais especificamente, entre a bela Sopita e Machado de Assis. Ao modo de Sofia, ele pertence àquela casta de escritores que o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias.
Após quatro meses de silêncio, Machado de Assis volta a publicar os folhetins de Quincas Borba
Biblioteca Nacional
O escritor: galhofa e melancolia
Festejai, republicanos de todo o país – vá lá, monarquistas também. No final deste mês, o suplemento literário da revista feminina A Estação traz de volta os folhetins de Quincas Borba, de Joaquim Maria Machado de Assis. Já não era sem tempo. Iniciado em junho de 1886, Quincas Borba desapareceu subitamente das páginas de A Estação há quatro meses, nas quais muitas vezes era publicado ao lado de anúncios de moda. Os leitores decerto estarão curiosos por saber o destino que a pena ora galhofeira, ora melancólica de Machado reservou àquelas personagens que circulam pela Corte carioca de trinta anos atrás, quando se passa a história. O Brasil então travava uma guerra com o Paraguai do marechal Solano López. O imperador Pedro II impunha o veterano conservador Visconde de Itaboraí como presidente do Conselho a uma Câmara de Deputados dominada pelos liberais, episódio do qual surgiria o Partido Republicano. E a escravidão ingressava em seus capítulos derradeiros com a assinatura da Lei do Ventre Livre.
Tudo isso se sabe. O que se desconhece é o que virá em Quincas Borba, vencida a crise de inspiração que se abateu sobre seu autor. Terá sucesso Rubião, o mineiro pé–de–chinelo que subitamente se converteu em capitalista graças à herança de um amigo lunático, em sua corte adúltera à bela Sofia? Guasca perturbadora, Sofia é capaz de enlouquecer o mais são dos homens. "Era daquela casta de mulheres que o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias", escreveu Machado. Sofia, na parte publicada do romance, está casada com Cristiano Palha, um tipo extraordinariamente ambicioso que conheceu Rubião quando este viajava num trem de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, já montado numa fortuna de muitos e muitos contos. Palha insinuou–se na amizade de Rubião e acabou por tomar–se seu sócio numa dessas casas de importação que proliferam no Rio nesta segunda metade de século XIX.
Em 1883, ao comentar o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, um marco na obra de Machado de Assis, o crítico Araripe Júnior, primo de José de Alencar, estampou sua perplexidade. "É o livro mais esquisito que se tem publicado em língua portuguesa", afirmou Araripe. Outro famoso literato, Capistrano de Abreu, perguntou se era um romance. Eram compreensíveis estas considerações. Ou alguém já vira antes um defunto autor, ou autor defunto, ele mesmo, Brás Cubas? Mesmo um capítulo sem uma única palavra aparecia no Memórias Póstumas. Até a interrupção de julho passado, já haviam sido escritos 105 capítulos de Quincas Borba, páginas suficientes para perceber que, em questão de esquisitices, ambos os romances se equivalem.
Primeiro que tudo, quem é mesmo o Quincas Borba que dá nome à história? Bem, talvez fosse melhor perguntar quais são, uma vez que não se trata de um, mas de dois Quincas Borba. O primeiro é um filósofo maluco, o amigo que legou a fortuna a Rubião, autor de uma teoria intitulada "Humanitas", segundo a qual a guerra constrói e a paz destrói.Tentemos desvendá–Ia. Suponhamos duas tribos em um campo de batatas. As batatas são bastantes para saciar a fome de apenas uma das tribos. Se houver paz, ambas perecerão de inanição. Na guerra, uma sobreviverá. O filósofo não era exatamente conciso. Se o fosse, poderia resumir "Humanitas" numa frase: ao vencedor, as batatas. Quincas Borba já aparecera antes no Memórias Póstumas, filosofando extravagâncias e batendo a carteira de Brás Cubas.
Existe, assim, um elo evidente entre os dois romances. Mas se o primeiro Quincas Borba surge agora apenas para morrer e enriquecer Rubião, o segundo vem acompanhando–o todos os dias. Não fala, gane. É o cachorro do filósofo, "algo peludo e cor de café", a quem o dono deu seu nome. "Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome de meu bom cachorro", justificou Quincas Borba a Rubião. Entre Rubião e o legado do criador de "Humanitas", erguia–se apenas uma condição: que cuidasse do cão com o mesmo carinho que dedicaria ao amigo que morrera. Tudo muito esquisito.
No capítulo trinta de Quincas Borba, Machado de Assis coloca–se na pele do leitor e faz um comentário revelador. "Arrenego de um autor que me diz tudo, que me não deixa colaborar no livro, com a minha própria imaginação", afirma. "A melhor página não é só a que se relê, é também a que a gente completa de si para si. "Não, ele não poderia perder uma oportunidade de dar mais um piparote nos devotos da escola realista, que têm no francês Emile ZoIa seu nome mais vistoso. A Machado repugna essa escola, com sua obsessão por mostrar a realidade tal como é, em seus menores detalhes, "com exação de inventário". Ele assestara já uma memorável pancada nos realistas ao fazer a crítica de O Primo Basílio, do português Eça de Queiroz, seguidor de Zola. "A nova poética só chegará à perfeição no dia em que nos disser o número exato de fios de que compõe um lenço de cambraia ou um esfregão da cozinha", esporeava então, Machado. Em que escola enquadrá–Io? Difícil. Aos derramamentos verbais dos românticos e à submissão dos parnasianos à forma, ele opõe a simplicidade. Talvez daqui a mais de um século os literatos ainda discutam a que escola pertence Machado de Assis.
Aos 50 anos de idade, o escritor desfruta sólida reputação. Desde 1883, uma biblioteca pública em ltajubá leva seu nome. "Chefe consagrado dos nossos literatos", "o primeiro de todos", "o único", reverenciam–no escritores como Raul Pompéia, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Se fosse criada no Brasil uma academia de letras nos moldes da francesa, seria um poderoso candidato à presidência. Machado de Assis dificilmente terá sido o brasileiro mais feliz com o advento da República, assim como não compartilhara o entusiasmo dos abolicionistas em 13 de maio do ano passado. Não que seja um monarquista fanático, longe disso. É que, como escreveu numa crônica recente, desconfia que, atrás dos arroubos dos progressistas, escondem–se aproveitadores interessados em transformar a República recém–nascida numa "anarquia social, mental, moral, não sei mais qual".
Que não tem os políticos em alta conta é notório. Os políticos em suas obras são nulidades pomposas. Uma dessas nulidades aparece justamente em Quincas Borba. Chama–se Camacho e faz, a certa altura, um desabafo lapidar. "Isso de política é como a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo", lamenta–se Camacho. "Não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende." De mais a mais, é inegável que o Segundo Reinado foi benfazejo a Machado de Assis, que vem de uma família humilde. Propiciou–lhe uma excelente carreira como funcionário público. Faz poucos meses, foi nomeado diretor do Ministério da Agricultura, com um salário de 8 contos anuais. Parece que pensava em comprar finalmente uma casa. Aquela em que ele e a mulher, Carolina, moram, no número 18 da Rua Cosme Velho, é alugada à condessa de São Mamede. Mas, provavelmente, agora se pergunta o que a República reservará para um alto funcionário da Monarquia como ele.
Seus cabelos estão embranquecendo, e ele passou a usá–los curtos, com uma barba que se prolonga em suíças até as orelhas. Gosta de jogar xadrez, voltarete e gamão. Levanta–se cedo e vai ao jardim ver as rosas, as murtas e as borboletas. "Tenho particular amor às borboletas", afirma. Depois, escreve. Trabalha no ministério após o almoço. Tem sempre, nos passeios pelo jardim, a companhia de Carolina. Conheceu–a no começo de 1867, irmã do poeta satírico português Faustino Xavier de Novais, que se fixara anos antes no Rio e fizera amizade com Machado de Assis. Morta a mãe, Novais mandara buscar Carolina em Portugal. Ao desembarcar no Brasil, Carolina andava pelos 32 anos e, se não era a mais formosa das lusitanas, tinha outras virtudes que capturaram a atenção do escritor. Em Portugal, polira–se na juventude na presença de intelectuais como Camilo Castelo Branco, que freqüentavam a casa de seus pais. "Talvez um anjo emudece quando ela fala", celebrou seu enamorado brasileiro numa poesia.
Os dois tiveram que superar resistências na família da noiva para casar, em 12 de novembro de 1869. O currículo extralivro do noivo não impressionou os Novais: mulato, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira, gago e epiléptico. Carolina, com seu português castiço, é quem vela pela ortografia sujeita a tropeços do autodidata que tomou por marido. É ela, também, quem mantém à mão, discretamente, a solução La Royenne, o antiepiléptico usado por Machado de Assis. Talvez Carolina o tenha ensinado, de resto, a lidar com gente inoportuna. Numa festa, há pouco tempo, uma senhora trocou meia dúzia de palavras com Machado e comentou: "Tinham me dito que o senhor é gago e vejo que não é tanto". Replicou ele: "Pois tinham–me dito que a senhora era estúpida e vejo também que não é tanto".
Louvem–na ou apedrejem–na, a pena de Machado de Assis é, sem dúvida, versátil. Poesia, romance, conto, crônica, crítica, teatro – a todos os gêneros vem ele dedicando–se. Lá se vão 25 anos desde o lançamento de seu primeiro livro, a coletânea de poemas Crisálidas, de 1864. Vieram depois peças de teatro, volumes de contos, como Histórias da Meia–Noite, e romances, como Ressurreição, Iaiá Garcia e Memórias Póstumas. Memórias Póstumas, aliás, de 1881, é um caso à parte. É diferente de tudo quanto escrevera antes, páginas preenchidas "com a pena da galhofa e a tinta da melancolia". Como pudera um só autor escrever Iaiá Garcia e Memórias Póstumas? "É que eu perdi todas as esperanças nos homens", disse certa vez Machado. Neste momento em que o público está prestes a reencontrar–se com as peripécias de Quincas Borba, talvez valha uma analogia entre criatura e criador. Ou, mais especificamente, entre a bela Sopita e Machado de Assis. Ao modo de Sofia, ele pertence àquela casta de escritores que o tempo, como um escultor vagaroso, não acaba logo, e vai polindo ao passar dos longos dias.
Como o mundo mudou!!!
Comportamento Rio, 20 de novembro de 1889
O banho de mar agora é programa de gente sadia
Antes de o sol nascer, uma estranha tribo invade as areias brancas das praias cariocas envergando trajes largos e desengonçados. Entram no mar, banham-se durante longos minutos, exercitam-se e vão-se embora, afugentados pelos primeiros raios de luz da manhã. O hábito de tomar banhos de mar nas praias do Rio de Janeiro está deixando de ser apenas um remédio prescrito pelos médicos para conquistar também o gosto das pessoas sadias. "Os banhos frios ativam a circulação sangüínea, restauram a saúde da pele, e a natação é um dos exercícios mais completos", ensina o médico fluminense Antônio Martins de Azevedo PimenteI, que vê com bons olhos os novos freqüentadores das praias. Se antes tomava-se banho de mar por orientação médica, para se atacar uma doença específica, agora ir à praia está sendo um programa de pessoas que tão-somente desejam se manter em boa forma física. A novidade já está até mudando as feições da orla marítima. Proliferam as casas de banho à beira-mar, onde as pessoas podem trocar de roupas, dentro de cabines, antes de se lançarem ao deleite da água.
Os mergulhos são cercados por um ritual, sobretudo no caso das mulheres. O banho deve ser tomado antes das 7 horas da manhã, porque, depois deste horário, a praia é invadida por todo tipo de gente - de pescadores a praticantes do remo -, que lança olhares curiosos ou insinuantes para as mulheres. Permanecer na praia depois das 7, portanto, não é hábito de uma moça de família. A indumentária também deve obedecer a critérios bastante rígidos. Em nenhuma hipótese, as linhas do corpo feminino devem ser distinguidas sob a roupa. Por isso, as calças das mulheres são largas, de tecido grosso - e a barra alcança o tornozelo. Os blusões, também largos, são ornamentados com golas generosas, no estilo marinheiro, que ajudam a esconder o colo e os seios. A cor da roupa, para evitar traições do tecido, sempre é o azul-escuro. Para os homens, as restrições quase não existem. Cada vez mais eles exibem o torso nu nas praias e as freqüentam em horários variados.
Até pouco tempo atrás, as praias não despertavam o interesse dos brasileiros - tanto que as construções à beira-mar eram edificadas de costas para a orla marítima e de frente para a montanha. Hoje, já existe um elenco de praias no Rio preferido pelos freqüentadores. As praias situadas em bairros residenciais próximos ao centro da cidade, como Botafogo e Flamengo, são as mais disputadas. Já aquelas muito próximas ao cais do porto estão sendo abandonadas, em virtude dos esgotos lançados ali. Um recanto paradisíaco que começa a ser descoberto pelos cariocas é a Praia de Copacabana, quase desabitada e situada em seguida à Praia de Botafogo. "Copacabana é a praia mais adequada para os banhos", diz o médico Pimentel. "A praia possui água e areia límpidas. Quando a urbanização chegar ali, as ruas deverão ser largas, e as casas pouco elevadas, para preservar a luz do sol", diz ele.
A dúvida, no caso, é saber até quando os cariocas vão insistir em freqüentar paragens tão remotas quanto Copacabana. Os mergulhos talvez não passem de um modismo passageiro - e é possível que, no futuro, tomar banho de mar volte a ser um hábito tão enfadonho quanto o era para o imperador Dom João VI. No início do século, quando viveu no Brasil, o rei de Portugal banhava-se nas praias cariocas a conselho médico - mas odiava a água salgada. Para evitar um contato maior com o mar, o imperador entrava n' água carregado por súditos e sentado num banco de madeira, no qual molhava apenas uma parte do corpo.
O banho de mar agora é programa de gente sadia
Antes de o sol nascer, uma estranha tribo invade as areias brancas das praias cariocas envergando trajes largos e desengonçados. Entram no mar, banham-se durante longos minutos, exercitam-se e vão-se embora, afugentados pelos primeiros raios de luz da manhã. O hábito de tomar banhos de mar nas praias do Rio de Janeiro está deixando de ser apenas um remédio prescrito pelos médicos para conquistar também o gosto das pessoas sadias. "Os banhos frios ativam a circulação sangüínea, restauram a saúde da pele, e a natação é um dos exercícios mais completos", ensina o médico fluminense Antônio Martins de Azevedo PimenteI, que vê com bons olhos os novos freqüentadores das praias. Se antes tomava-se banho de mar por orientação médica, para se atacar uma doença específica, agora ir à praia está sendo um programa de pessoas que tão-somente desejam se manter em boa forma física. A novidade já está até mudando as feições da orla marítima. Proliferam as casas de banho à beira-mar, onde as pessoas podem trocar de roupas, dentro de cabines, antes de se lançarem ao deleite da água.
Os mergulhos são cercados por um ritual, sobretudo no caso das mulheres. O banho deve ser tomado antes das 7 horas da manhã, porque, depois deste horário, a praia é invadida por todo tipo de gente - de pescadores a praticantes do remo -, que lança olhares curiosos ou insinuantes para as mulheres. Permanecer na praia depois das 7, portanto, não é hábito de uma moça de família. A indumentária também deve obedecer a critérios bastante rígidos. Em nenhuma hipótese, as linhas do corpo feminino devem ser distinguidas sob a roupa. Por isso, as calças das mulheres são largas, de tecido grosso - e a barra alcança o tornozelo. Os blusões, também largos, são ornamentados com golas generosas, no estilo marinheiro, que ajudam a esconder o colo e os seios. A cor da roupa, para evitar traições do tecido, sempre é o azul-escuro. Para os homens, as restrições quase não existem. Cada vez mais eles exibem o torso nu nas praias e as freqüentam em horários variados.
Até pouco tempo atrás, as praias não despertavam o interesse dos brasileiros - tanto que as construções à beira-mar eram edificadas de costas para a orla marítima e de frente para a montanha. Hoje, já existe um elenco de praias no Rio preferido pelos freqüentadores. As praias situadas em bairros residenciais próximos ao centro da cidade, como Botafogo e Flamengo, são as mais disputadas. Já aquelas muito próximas ao cais do porto estão sendo abandonadas, em virtude dos esgotos lançados ali. Um recanto paradisíaco que começa a ser descoberto pelos cariocas é a Praia de Copacabana, quase desabitada e situada em seguida à Praia de Botafogo. "Copacabana é a praia mais adequada para os banhos", diz o médico Pimentel. "A praia possui água e areia límpidas. Quando a urbanização chegar ali, as ruas deverão ser largas, e as casas pouco elevadas, para preservar a luz do sol", diz ele.
A dúvida, no caso, é saber até quando os cariocas vão insistir em freqüentar paragens tão remotas quanto Copacabana. Os mergulhos talvez não passem de um modismo passageiro - e é possível que, no futuro, tomar banho de mar volte a ser um hábito tão enfadonho quanto o era para o imperador Dom João VI. No início do século, quando viveu no Brasil, o rei de Portugal banhava-se nas praias cariocas a conselho médico - mas odiava a água salgada. Para evitar um contato maior com o mar, o imperador entrava n' água carregado por súditos e sentado num banco de madeira, no qual molhava apenas uma parte do corpo.
A moda musical na altura da proclamação da república.
Música. Rio, 20 de novembro de 1889
O maxixe conquista teatros e salões de baile e se firma como a dança da moda
Pernas entrelaçadas e umbigos que saracoteiam em Iambadas recíprocas dão o tom da mais nova febre que assola as sociedades carnavalescas e teatros da cidade: o maxixe. O balanço irresistível do maxixe, de tão variado, não pode ser classificado como um ritmo musical. O que caracteriza o maxixe é uma coreografia muito peculiar, provocante a ponto de roçar os limites do decoro, que vem despertando celeuma na mesma medida em que a dança se firma como o prato predileto nos salões de baile populares do Rio de Janeiro. Para se dançar maxixe, é necessário ter os pés praticamente plantados no chão - mexe-se pouco com eles - e responder aos apelos sincopados da música com acentuados requebros de cintura. Dança-se maxixe com os corpos colados, e alguns cavalheiros tomam a liberdade de pousar as mãos abaixo da cintura de suas parceiras durante os volteios. Com esses movimentos ousados, cabe perguntar se o ritmo da moda é uma dança saborosa e inovadora ou apenas uma indecência ao som de música sincopada.
A rainha do maxixe no Rio de Janeiro, a maestrina e compositora Francisca Edwiges Gonzaga, de 42 anos, conhecida como "Chiquinha Gonzaga", sabe muito bem o que significa o escândalo em torno do novo ritmo. Renomada professora de música e compositora no Rio de Janeiro, ela coloca no frontispício das partituras de seus maxixes a denominação "tango brasileiro". "Se eu colocar nas músicas o termo maxixe, elas não entram nas casas de família que têm piano", queixa-se a compositora. Foi ela também a responsável pela introdução do maxixe nos palcos dos teatros, a bordo da revista musical A Corte na Roça, de 1885 - primeira opereta com música escrita por uma mulher a ser encenada nos palcos brasileiros. O teatro que exibia a peça sofreu ameaça de interdição por parte da polícia, que queria cortar a cena final aquela em que um casal de capiaus aparece maxixando com todos os requebros e trejeitos, num alucinante vai-e-vem de umbigos. "Na roça não se dança de maneira tão indecente", observou um crítico na época.
A polícia implicou com A Corte na Roça, na verdade, por motivos políticos. Chiquinha Gonzaga, que gosta de se ocupar de assuntos masculinos como a política, foi abolicionista e é republicana ferrenha. Na peça, ela incluiu os seguintes versos, cantados na voz de um caipira:
Já não há nenhum escravo
Na fazenda do sinhô
Todos são abolicionistas
Até mesmo o imperador.
A polícia exigiu que se trocasse a palavra "imperador" por "doutor". Hoje, se Chiquinha decidisse remontar a peça, não teria quaisquer problemas com a polícia. E o sucesso estaria garantido - nos últimos tempos, as peças de maior público são aquelas que incluem, entre suas atrações, números de maxixe.
Mesmo com toda a oposição dos defensores da moral, as sociedades carnavalescas nas quais se pratica o maxixe vêm sendo freqüentadas, com cada vez mais intensidade, por rapazes da alta sociedade; e as partituras do ritmo, escondidas sob o pseudônimo de tangos brasileiros, penetram furtivamente dentro dos lares, onde moças de família as executam ao piano. Mistura da melodia expressiva do chorinho com a métrica sincopada e pulsante do lundu, o maxixe, ao lado das modinhas imperiais - que acontecerá a esse nome com a queda do Império? -, tem tudo para se firmar como a moda musical do momento. A exemplo da modinha, a princípio considerada chula e lasciva, e que hoje começa a ganhar aceitação nos círculos mais nobres da sociedade, o maxixe vem dando uma lambada em seus opositores e fazendo da polêmica que desperta mais um atrativo. A proibição redobra o prazer de remexer a cintura e trocar confidências diretamente de umbigo a umbigo.
O maxixe conquista teatros e salões de baile e se firma como a dança da moda
Pernas entrelaçadas e umbigos que saracoteiam em Iambadas recíprocas dão o tom da mais nova febre que assola as sociedades carnavalescas e teatros da cidade: o maxixe. O balanço irresistível do maxixe, de tão variado, não pode ser classificado como um ritmo musical. O que caracteriza o maxixe é uma coreografia muito peculiar, provocante a ponto de roçar os limites do decoro, que vem despertando celeuma na mesma medida em que a dança se firma como o prato predileto nos salões de baile populares do Rio de Janeiro. Para se dançar maxixe, é necessário ter os pés praticamente plantados no chão - mexe-se pouco com eles - e responder aos apelos sincopados da música com acentuados requebros de cintura. Dança-se maxixe com os corpos colados, e alguns cavalheiros tomam a liberdade de pousar as mãos abaixo da cintura de suas parceiras durante os volteios. Com esses movimentos ousados, cabe perguntar se o ritmo da moda é uma dança saborosa e inovadora ou apenas uma indecência ao som de música sincopada.
A rainha do maxixe no Rio de Janeiro, a maestrina e compositora Francisca Edwiges Gonzaga, de 42 anos, conhecida como "Chiquinha Gonzaga", sabe muito bem o que significa o escândalo em torno do novo ritmo. Renomada professora de música e compositora no Rio de Janeiro, ela coloca no frontispício das partituras de seus maxixes a denominação "tango brasileiro". "Se eu colocar nas músicas o termo maxixe, elas não entram nas casas de família que têm piano", queixa-se a compositora. Foi ela também a responsável pela introdução do maxixe nos palcos dos teatros, a bordo da revista musical A Corte na Roça, de 1885 - primeira opereta com música escrita por uma mulher a ser encenada nos palcos brasileiros. O teatro que exibia a peça sofreu ameaça de interdição por parte da polícia, que queria cortar a cena final aquela em que um casal de capiaus aparece maxixando com todos os requebros e trejeitos, num alucinante vai-e-vem de umbigos. "Na roça não se dança de maneira tão indecente", observou um crítico na época.
A polícia implicou com A Corte na Roça, na verdade, por motivos políticos. Chiquinha Gonzaga, que gosta de se ocupar de assuntos masculinos como a política, foi abolicionista e é republicana ferrenha. Na peça, ela incluiu os seguintes versos, cantados na voz de um caipira:
Já não há nenhum escravo
Na fazenda do sinhô
Todos são abolicionistas
Até mesmo o imperador.
A polícia exigiu que se trocasse a palavra "imperador" por "doutor". Hoje, se Chiquinha decidisse remontar a peça, não teria quaisquer problemas com a polícia. E o sucesso estaria garantido - nos últimos tempos, as peças de maior público são aquelas que incluem, entre suas atrações, números de maxixe.
Mesmo com toda a oposição dos defensores da moral, as sociedades carnavalescas nas quais se pratica o maxixe vêm sendo freqüentadas, com cada vez mais intensidade, por rapazes da alta sociedade; e as partituras do ritmo, escondidas sob o pseudônimo de tangos brasileiros, penetram furtivamente dentro dos lares, onde moças de família as executam ao piano. Mistura da melodia expressiva do chorinho com a métrica sincopada e pulsante do lundu, o maxixe, ao lado das modinhas imperiais - que acontecerá a esse nome com a queda do Império? -, tem tudo para se firmar como a moda musical do momento. A exemplo da modinha, a princípio considerada chula e lasciva, e que hoje começa a ganhar aceitação nos círculos mais nobres da sociedade, o maxixe vem dando uma lambada em seus opositores e fazendo da polêmica que desperta mais um atrativo. A proibição redobra o prazer de remexer a cintura e trocar confidências diretamente de umbigo a umbigo.
Hemingway - O velho e o mar.
(...) "O vento é o nosso bom amigo, seja lá como for", pensou. "às vezes", acrescentou em seguida. "E o grande mar, como nossos amigos e inimigos. E a cama", acrescentou em pensamento. "A cama é minha amiga. De cama é que eu preciso. Espero por ela com uma grande impaciência (...)
Calderón de la Barca - O grande teatro do mundo (introdução).
Formosa compustura
dessa vária inferior arquitetura,
que, entre sombras distantes,
a esta celeste roubas seus brilhantes,
quando com flores belas
o número compete com as estrelas,
sendo, com resplendores,
humano céu, pois de caducas flores.
campanha de elementos,
com nomes, raios, pélagos e ventos:
com ventos, onde graves
e agéis te sulcam os baixéis das aves;
com pélagos e mares, onde frotas
de peixes vão por águas tão ignotas;
com raios, onde rouco
te ilumina com ódio o fogo louco;
com montes, onde donos absolutos
te passeiam os homens como os brutos,
sendo, em contínua guerra,
monstro de fogo e ar, e de água e terra.
tu, que, sempre diverso,
a fábrica feliz deste universo
és, prodígio primeiro sem segundo,
e por chamar-te de uma vez, tu, mundo,
que nasces como fênix em sua fama
de tuas próprias cinzas.
dessa vária inferior arquitetura,
que, entre sombras distantes,
a esta celeste roubas seus brilhantes,
quando com flores belas
o número compete com as estrelas,
sendo, com resplendores,
humano céu, pois de caducas flores.
campanha de elementos,
com nomes, raios, pélagos e ventos:
com ventos, onde graves
e agéis te sulcam os baixéis das aves;
com pélagos e mares, onde frotas
de peixes vão por águas tão ignotas;
com raios, onde rouco
te ilumina com ódio o fogo louco;
com montes, onde donos absolutos
te passeiam os homens como os brutos,
sendo, em contínua guerra,
monstro de fogo e ar, e de água e terra.
tu, que, sempre diverso,
a fábrica feliz deste universo
és, prodígio primeiro sem segundo,
e por chamar-te de uma vez, tu, mundo,
que nasces como fênix em sua fama
de tuas próprias cinzas.
domingo, 14 de novembro de 2010
gotas de sabedoria diária
Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência.
Arthur Schopenhauer
Arthur Schopenhauer
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Castro Alves. Joana.
D. Joana
SENHORA, eu vos dou versos, porque apanho
Das flores d'ahna um ramalhete agreste
E são versos a flora perfumada,
Que de meu seio a solidão reveste.
E vós que amais a parasita ardente,
Que abre como um suspiro em pleno maio,
E o aroma que anima o cálix rubro
— Talvez de uma alma perfumoso ensaio,
E esse vago tremer de níveas pétalas,
Que faz das flores meias borboletas,
O escarlate das malvas presumidas,
A modéstia infantil das violetas,
E essa linguagem transparente e meiga
Que a natureza fala nas campinas
Pelas vozes das brisas suspirosas,
Pela boca rosada das boninas ...
Hoje, na vossa festa, em vosso dia,
Em meio aos vossas íntimos amores...
Juntai aos ramalhetes estes versas,
Pois versas de afeição... também são flores!
SENHORA, eu vos dou versos, porque apanho
Das flores d'ahna um ramalhete agreste
E são versos a flora perfumada,
Que de meu seio a solidão reveste.
E vós que amais a parasita ardente,
Que abre como um suspiro em pleno maio,
E o aroma que anima o cálix rubro
— Talvez de uma alma perfumoso ensaio,
E esse vago tremer de níveas pétalas,
Que faz das flores meias borboletas,
O escarlate das malvas presumidas,
A modéstia infantil das violetas,
E essa linguagem transparente e meiga
Que a natureza fala nas campinas
Pelas vozes das brisas suspirosas,
Pela boca rosada das boninas ...
Hoje, na vossa festa, em vosso dia,
Em meio aos vossas íntimos amores...
Juntai aos ramalhetes estes versas,
Pois versas de afeição... também são flores!
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
A VÉSPERA... DRUMMOND.
Véspera
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda é bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirão em teu bruxedo.
Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.
Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flúor,
se não a roça enfim tua sandália?
Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarão aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifício há de ser lento e augusto.
Então, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no círculo de luz que desenrolas!
Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.
E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos, que se expande,
corpóreos, são mais leves do que brisa.
E na montanha-russa o grito unânime
é medo e gozo ingénuo, repartido
em casais que se fundem, mas sem flama,
que só mais tarde o peito é consumido.
Olha, amor, o que fazes desses jovens
(ou velhos) debruçados na água mansa,
relendo a sem-palavra das estórias
que nosso entendimento não alcança.
Na pressa dos comboios, entre silvos,
carregadores e campainhas, rouca
explosão de viagem, como é lírico
o batom a fugir de uma a outra boca.
Assim teus namorados se prospectam:
um é mina do outro; e não se esgota
esse ouro surpreendido nas cavernas
de que o instinto possui a esquiva rota.
Serão cegos, autómatos, escravos
de um deus sem caridade e sem presença?
Mas sorriem os olhos, e que claros
gestos de integração, na noite densa!
Não ensaies de mais as tuas vítimas,
ó amor, deixa em paz os namorados
Eles guardam em si, coral sem ritmo,
os infernos futuros e passados.
Carlos Drummond de Andrade, in 'A Vida Passada a Limpo'
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda é bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirão em teu bruxedo.
Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.
Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flúor,
se não a roça enfim tua sandália?
Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarão aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifício há de ser lento e augusto.
Então, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no círculo de luz que desenrolas!
Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.
E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos, que se expande,
corpóreos, são mais leves do que brisa.
E na montanha-russa o grito unânime
é medo e gozo ingénuo, repartido
em casais que se fundem, mas sem flama,
que só mais tarde o peito é consumido.
Olha, amor, o que fazes desses jovens
(ou velhos) debruçados na água mansa,
relendo a sem-palavra das estórias
que nosso entendimento não alcança.
Na pressa dos comboios, entre silvos,
carregadores e campainhas, rouca
explosão de viagem, como é lírico
o batom a fugir de uma a outra boca.
Assim teus namorados se prospectam:
um é mina do outro; e não se esgota
esse ouro surpreendido nas cavernas
de que o instinto possui a esquiva rota.
Serão cegos, autómatos, escravos
de um deus sem caridade e sem presença?
Mas sorriem os olhos, e que claros
gestos de integração, na noite densa!
Não ensaies de mais as tuas vítimas,
ó amor, deixa em paz os namorados
Eles guardam em si, coral sem ritmo,
os infernos futuros e passados.
Carlos Drummond de Andrade, in 'A Vida Passada a Limpo'
boa dica do site do olivier anquier, refeição rápida.
Croque Monsieur
Receita para 2 pessoas
Ingredientes:
• 4 fatias de brioche (ou pão de fôrma comum)
• 2 ovos
• 1 copo de creme de leite fresco
• Queijo ralado tipo gruyère ou emmental
• 2 fatias de presunto cozido
• Sal e pimenta-do-reino a gosto
Prepare assim:
• Misture os ovos e o creme de leite, até formar um creme;
• Adicione 1 pitada de sal e pimenta-do-reino;
• Com uma concha, espalhe o creme sobre as fatias de pão, para que o miolo absorva o líquido;
• Espalhe uma porção generosa de queijo ralado sobre 2 fatias;
• Coloque 1 fatia de presunto, cobrindo toda a superfície do pão;
• Feche o sanduíche e despeje o restante do creme, cobrindo tudo com mais uma porção de queijo ralado;
• Leve ao forno pré-aquecido a 250ºC;
• Retire quando estiver gratinado por cima e levemente tostado por baixo.
Seu croque fica muito mais gostoso se feito com brioche.
Para dar um toque diferenciado ao croque, você pode trocar o presunto cozido por presunto tipo parma.
Para acompanhar o croque, sirva uma salada de folhas verdes, regada com um bom vinagre, azeite e um pouco de sal e pimenta-do-reino.
Receita para 2 pessoas
Ingredientes:
• 4 fatias de brioche (ou pão de fôrma comum)
• 2 ovos
• 1 copo de creme de leite fresco
• Queijo ralado tipo gruyère ou emmental
• 2 fatias de presunto cozido
• Sal e pimenta-do-reino a gosto
Prepare assim:
• Misture os ovos e o creme de leite, até formar um creme;
• Adicione 1 pitada de sal e pimenta-do-reino;
• Com uma concha, espalhe o creme sobre as fatias de pão, para que o miolo absorva o líquido;
• Espalhe uma porção generosa de queijo ralado sobre 2 fatias;
• Coloque 1 fatia de presunto, cobrindo toda a superfície do pão;
• Feche o sanduíche e despeje o restante do creme, cobrindo tudo com mais uma porção de queijo ralado;
• Leve ao forno pré-aquecido a 250ºC;
• Retire quando estiver gratinado por cima e levemente tostado por baixo.
Seu croque fica muito mais gostoso se feito com brioche.
Para dar um toque diferenciado ao croque, você pode trocar o presunto cozido por presunto tipo parma.
Para acompanhar o croque, sirva uma salada de folhas verdes, regada com um bom vinagre, azeite e um pouco de sal e pimenta-do-reino.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
melhores coisas da vida.
Se apaixonar.
Rir até sentir o rosto doer.
Um banho quente.
Um supermercado sem filas.
Um olhar especial.
Receber cartas.
Dirigir numa estrada bonita.
Escutar sua música preferida no rádio.
Um banho de espuma.
Uma boa conversa.
A praia.
Achar uma nota de R$50 na sua blusa do inverno passado.
Rir de você mesmo.
Rir sem absolutamente razão nenhuma.
Ter alguém pra te dizer que você que é bonito (a).
Rir por alguma coisa que você lembrou.
Os amigos.
Ouvir acidentalmente alguém falar bem de você.
Acordar e perceber que ainda faltam algumas horas para dormir.
Fazer novos amigos ou ficar junto dos velhos.
Conversas à noite com seu colega de quarto que não te deixa dormir.
Alguém brincar com o seu cabelo.
Bons sonhos.
Viagens com os amigos.
Dançar
Beijar na boca
Ir a um bom show.
Ter calafrios ao ver aquela pessoa.
Ganhar um jogo difícil
Passar o tempo com os amigos.
Ver os amigos sorrir ou rir.
Segurar as mãos de um amigo.
Encontrar com um velho amigo e descobrir que tem coisas que nunca mudam.
Descobrir que o amor é eterno e incondicional.
Abraçar a pessoa que você ama.
Ver a expressão de alguém que ganhou um presente que queria muito de você.
Ver o nascer do sol.
Levantar todo dia e agradecer a Deus por outro lindo dia!
Sorriam e aproveitem as coisas boas da vida!
Rir até sentir o rosto doer.
Um banho quente.
Um supermercado sem filas.
Um olhar especial.
Receber cartas.
Dirigir numa estrada bonita.
Escutar sua música preferida no rádio.
Um banho de espuma.
Uma boa conversa.
A praia.
Achar uma nota de R$50 na sua blusa do inverno passado.
Rir de você mesmo.
Rir sem absolutamente razão nenhuma.
Ter alguém pra te dizer que você que é bonito (a).
Rir por alguma coisa que você lembrou.
Os amigos.
Ouvir acidentalmente alguém falar bem de você.
Acordar e perceber que ainda faltam algumas horas para dormir.
Fazer novos amigos ou ficar junto dos velhos.
Conversas à noite com seu colega de quarto que não te deixa dormir.
Alguém brincar com o seu cabelo.
Bons sonhos.
Viagens com os amigos.
Dançar
Beijar na boca
Ir a um bom show.
Ter calafrios ao ver aquela pessoa.
Ganhar um jogo difícil
Passar o tempo com os amigos.
Ver os amigos sorrir ou rir.
Segurar as mãos de um amigo.
Encontrar com um velho amigo e descobrir que tem coisas que nunca mudam.
Descobrir que o amor é eterno e incondicional.
Abraçar a pessoa que você ama.
Ver a expressão de alguém que ganhou um presente que queria muito de você.
Ver o nascer do sol.
Levantar todo dia e agradecer a Deus por outro lindo dia!
Sorriam e aproveitem as coisas boas da vida!
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
gotas de sabedoria diária.
A razão escraviza todas as mentes que não são suficientemente fortes para a dominarem
Bernard Shaw.
continuação...
Alimentos que não combinam com vinho - o assunto é extremamente polêmico e os alimentos aqui mencionados são citados em diversas fontes na literatura enogastronômica.
Temperos acentuados
Curry, dendê, shoyu, wasabi, etc.
Alimentos ácidos
Vinagre, limão, laranja, grapefruit, kiwi, etc.
Certas verduras e legumes
Alcachofra, aspargo, couve, etc.
Outros
Ovo, chocolate, sopa, feijoada, etc.
Temperos acentuados
Curry, dendê, shoyu, wasabi, etc.
Alimentos ácidos
Vinagre, limão, laranja, grapefruit, kiwi, etc.
Certas verduras e legumes
Alcachofra, aspargo, couve, etc.
Outros
Ovo, chocolate, sopa, feijoada, etc.
para combinar uma boa refeição com o vinho certo, aí vão as dicas.
Combinação do vinho com comida
Vinho tinto seco leve
Carne vermelha frita ou grelhada
Vinho tinto seco encorpado
Carne assada e queijos fortes
Vinho tinto leve
Massas tipo alho e óleo
Vinho tinto seco
Massas com molho de tomate
Vinho branco seco
Massas com molho branco,saladas,antepastos
Vinho branco seco leve
Peixes
Vinho seco encorpado
Ostras e mariscos
Vinho doce
Bacalhau
Vinho do Porto
frutas secas, bolos,etc
Vinho tinto seco leve
Carne vermelha frita ou grelhada
Vinho tinto seco encorpado
Carne assada e queijos fortes
Vinho tinto leve
Massas tipo alho e óleo
Vinho tinto seco
Massas com molho de tomate
Vinho branco seco
Massas com molho branco,saladas,antepastos
Vinho branco seco leve
Peixes
Vinho seco encorpado
Ostras e mariscos
Vinho doce
Bacalhau
Vinho do Porto
frutas secas, bolos,etc
estive lá no CCBB para conferir a exposição e recomendo. É belíssimo o acervo, bem como as obras reunidas. Vale muito a pena conferir.
Exposição "Islã" reúne mais de 300 obras no CCBB do Rio.
Com mais de 300 obras de museus da Síria e do Irã, que, em sua maioria, nunca saíram desses países, a mostra vai até o dia 26 de dezembro e tem entrada gratuita.
A exposição compreende 13 séculos de arte islâmica e tem peças de ourivesaria, mobiliário, tapeçaria, vestuário, armas, armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, objetos de vidro, iluminuras, pinturas, caligrafia e instrumentos científicos e musicais. Os objetos ficarão distribuídos em todo o espaço expositivo do primeiro andar, além da rotunda e dos foyers, no térreo.
Os acervos que compõe a exposição são provenientes dos mais importantes museus da Síria e do Irã: Museu Nacional de Damasco, do Palácio Azem (Museu das Tradições Populares) e Museu da Cidade de Aleppo, na Síria; e Museu Nacional do Irã, Museu Reza Abassi e Museu dos Tapetes, de Teerã. Virão ainda peças provenientes de países do norte da África, pertencentes aos acervos da Bibliaspa (Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes) e do Acervo Casa das Áfricas.
--------------------------------------------------------------------------------
"ISLÃ"
Quando: de 12 de outubro a 26 de dezembro de 2010. Diariamente, das 9h às 21h
Onde: CCBB Rio de Janeiro (rua Primeiro de Março, 66 , Centro)
Quanto: grátis
Com mais de 300 obras de museus da Síria e do Irã, que, em sua maioria, nunca saíram desses países, a mostra vai até o dia 26 de dezembro e tem entrada gratuita.
A exposição compreende 13 séculos de arte islâmica e tem peças de ourivesaria, mobiliário, tapeçaria, vestuário, armas, armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, objetos de vidro, iluminuras, pinturas, caligrafia e instrumentos científicos e musicais. Os objetos ficarão distribuídos em todo o espaço expositivo do primeiro andar, além da rotunda e dos foyers, no térreo.
Os acervos que compõe a exposição são provenientes dos mais importantes museus da Síria e do Irã: Museu Nacional de Damasco, do Palácio Azem (Museu das Tradições Populares) e Museu da Cidade de Aleppo, na Síria; e Museu Nacional do Irã, Museu Reza Abassi e Museu dos Tapetes, de Teerã. Virão ainda peças provenientes de países do norte da África, pertencentes aos acervos da Bibliaspa (Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes) e do Acervo Casa das Áfricas.
--------------------------------------------------------------------------------
"ISLÃ"
Quando: de 12 de outubro a 26 de dezembro de 2010. Diariamente, das 9h às 21h
Onde: CCBB Rio de Janeiro (rua Primeiro de Março, 66 , Centro)
Quanto: grátis
esse poema é uma homengam a um grande amigo que vivia a recitá-lo. Palavras duras, versos fortes e grandes lembranças.
Versos Íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)